quarta-feira, 28 de março de 2012

Millôr começou a trabalhar como jornalista aos 14; leia mais

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO - Uol.

O jornalista, desenhista, escritor, tradutor, autor teatral e apresentador de TV Millôr Fernandes nasceu Milton Viola Fernandes, no Rio de Janeiro, em 27 de maio de 1924, segundo sua certidão --outras fontes apontam a data de 16 de agosto de 1923 ("Há desencontros de opinião na família", escreveu o próprio).

Anos depois, quando viu seu registro de nascimento, admirou-se com a caligrafia do escrivão, que dava ao T de seu nome o aspecto de um L e ao N a aparência de um R.
E assumiu-se Millôr.

Filho de um engenheiro espanhol emigrante, Francisco Fernandes, e da brasileira Maria Viola Fernandes, nasceu e foi criado no subúrbio carioca do Méier.

Perdeu o pai ainda bebê e a mãe aos 10 anos. Com seus irmãos Judith, Hélio e Ruth, foi morar na casa de um tio, no que chamou de "período dickensiano, vendo o bife ser posto no prato dos primos".

Em 1938, entrou no Liceu de Artes e Ofícios e começou a trabalhar profissionalmente na revista "O Cruzeiro". A partir daí, se tornaria um dos principais nomes do jornalismo e das artes no Brasil, com múltiplas aptidões --para o desenho, a prosa, a poesia, o teatro, a literatura.

A praia era uma de suas predileções. Morador de Ipanema desde 1954, colocou o Posto 9 e o frescobol (esporte que afirmava ter inventado) no mapa. Bom nadador, dizia que sua vocação "sempre foi o esporte" e que era "um atleta frustrado".

Dificilmente se diria frustrado em outras áreas: foi premiado como desenhista (dividiu com seu ídolo Saul Steinberg [1914-1999] o primeiro lugar na Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires, em 1955), requisitado como tradutor (de Shakespeare, Molière, Sófocles, Bernard Shaw), autor de peças célebres como "Liberdade, Liberdade" (1965), uma das obras pioneiras do teatro de resistência ao regime militar, feita em parceria com Flávio Rangel e encenada pelo Grupo Opinião, com Paulo Autran e Tereza Rachel.

Publicou mais de 50 livros a partir de 1946, boa parte compilando textos humorísticos e desenhos feitos para a imprensa, dentre eles "Fábulas Fabulosas" (1964) e "A Verdadeira História do Paraíso" (1972).
Este último reunia textos publicados em "O Cruzeiro" satirizando a narrativa bíblica da criação, o que desagradou a representantes católicos e causou sua saída da revista, em 1963, após ter sido atacado em editorial.

Ricardo Moraes/Folhapress
O escrito Millôr Fernandes, que morreu em sua casa no Rio
O escrito Millôr Fernandes, que morreu em sua casa no Rio


Seu humor crítico e inclemente lhe traria problemas também com governantes, desde o presidente Juscelino Kubitschek (que censurou seu programa "Treze Lições de um Ignorante", na TV Tupi Rio, após uma piada com a primeira-dama) até os militares que atacaram "O Pasquim" --jornal que ele ajudou a criar-- durante a ditadura.

A política também causaria o fim de seu primeiro período (1968-1982) na revista "Veja", quando se negou a cessar o apoio público a Leonel Brizola nas eleições para governador do RJ em 1982.

Em setembro de 2004, voltaria à "Veja", mas sairia cinco anos depois --seu contrato não seria renovado após Millôr questionar (a princípio extrajudicialmente) a publicação de suas colunas antigas na edição digital da revista.

Na Folha, Millôr Fernandes assinou uma coluna semanal, no caderno dominical "Mais!", entre julho de 2000 e agosto de 2001.

Foi nesse período que escreveu texto que lhe rendeu processo do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), após dizer que seu projeto de restringir termos estrangeiros na língua portuguesa era "uma idioletice".
Nos últimos anos, Millôr repetia em entrevistas que era "indecentemente feliz".

Dizia viver na melhor época da história, e admirava o desenvolvimento tecnológico --comprou seu primeiro computador em 1986, criou um "saite" em 2000 (www.millor.com.br ) e mantinha uma conta no Twitter (com mais de 335 mil seguidores) desde 2009.

Millôr deixa dois filhos, Ivan e Paula, frutos de seu relacionamento com Wanda Rubino. Dois de seus irmãos são vivos: Ruth, que mora no Equador, e Hélio, proprietário do jornal "Tribuna da Imprensa".

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