Ex-ferroviário relembra tempos áureos da via férrea regional
Na margem direita da rodovia PR-435 (Congonhinhas-Ibaiti), adiante de Campinhos, três casas de alvenaria permanecem, há pelo menos 70 anos, notáveis pela arquitetura diferenciada e a solidez, apesar da falta de manutenção após terem abrigado a Turma 30 de conservação do sub-ramal ferroviário Wenceslau Braz - Barra Bonita e Rio do Peixe (ou Laranjinha), com ponto final em Figueira.
Os moradores atuais tomaram posse ao encontrá-las abandonadas e não sabem que ocupam um fragmento do 'indefinido patrimônio' que pertenceu à Rede Ferroviária Federal S.A., extinta em 2007 pelo Governo. Por ali, os trilhos foram retirados e só há vestígios da antiga Estação Artur Bernardes, panorama decepcionante para aficionados que vivem apregoando a volta dos trens e a restauração das antigas estações.
A imagem de outrora, do sub-ramal ativo, permanece na memória de um morador do Distrito de Campinhos, o ‘Seo’ Henrique Pereira da Silva, 77 anos, demitido pela Rede de Viação Paraná-Santa Catarina (RVPRSC) três anos antes de o tráfego cessar completamente, em 1975, quando o carvão já havia perdido competitividade.
‘Auxiliar de trem nível 3’, conforme o registro, 'mas já fazia serviço de chefe de trem', acrescenta o ex-ferroviário que diz ter trabalhado durante mais de 23 anos, desde 1951, inicialmente como 'auxiliar artífice' na oficina da Rede em Wenceslau Braz.
No documento da Rede, que ele mantém guardado, consta a admissão em 1/11/1955, demissão em 15/8/1972 e tempo de serviço superior ao registrado: 20 anos, sete meses e 14 dias. Discrepância que não é o fato principal na história de Henrique Pereira da Silva.
Expressando-se com clareza, ele faz uma análise da influência econômica e romântica da ferrovia sobre as comunidades ao longo do sub-ramal, construído entre 1922 e 1948. Com as poucas oportunidades de trabalho fora da agricultura, 'para muitos jovens o futuro estava na polícia militar e nas ferrovias, que admitiam até analfabetos', recorda. 'Moleques podiam começar lavando peças em oficinas de trens.'
O que mais o impressionava era a afinidade das populações com a estrada de ferro e ao recordar, tem a voz embargada pela emoção: 'Até pessoas que não iam viajar compareciam à estação em horários dos trens. Na estação, os namorados passeavam e não havia outro ponto de encontro tão certo', resume.
Trens de passageiros e principalmente de carga, o carvão extraído de poços em Figueira e imediações, tendo entre os consumidores as Estradas de Ferro Sorocabana e Paulista, que colocavam os próprios vagões. Só mais tarde seria construída a Termelétrica de Figueira, motivo da atividade carbonífera até hoje.
(Publicado na Folha de Londrina, Caderno do Norte Pioneiro – edição de 05/10/2011)
(Assessoria)
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